Ao contrário de outras pessoas com PMO, quando Sharrah vê rostos em telas planas, eles parecem normais. Isso permitiu que Mello e os outros pesquisadores criassem as primeiras imagens em 2D que dão uma ideia de como as pessoas com PMO veem os rostos.
Para criar as imagens, os pesquisadores pediram a Sharrah que comparasse como via rostos com as fotos dessas mesmas pessoas que apareciam em uma tela de computador. Assim, foi possível detalhar e descrever as distorções.
Para outros pacientes que sofrem de PMO, os rostos nas fotos também aparecem distorcidos. Sharrah disse que a vida com PMO é “muito mais traumática do que as imagens criadas podem transmitir”.
“O que as pessoas não entendem quando veem essas imagens é que, na vida real, aquele rosto está se movendo, gesticulando e falando”, acrescenta.
As imagens são “úteis para que as pessoas entendam os tipos de distorções que as pessoas podem ver”, diz Jason Barton, neurologista da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, que não participou do estudo.
A causa exata da prosopometamorfopsia permanece desconhecida. O neurologista Jason Barton considera a PMO um “sintoma, não um distúrbio”, portanto, poderia ter várias causas, segundo artigo publicado na Science News.
Na maioria dos casos que Barton estudou, “algo acontece no cérebro que se correlaciona com o início dessa experiência anormal”.
Sharrah tem uma lesão cerebral decorrente de um acidente que sofreu quando trabalhava como motorista de caminhão em 2007.
Mas, na opinião de Mello, porém, isso não está relacionado à PMO, porque os exames de ressonância magnética mostraram que a lesão está no hipocampo de Sharrah, uma parte do cérebro “não associada à rede de processamento facial”.
Apenas 81 casos de PMO foram relatados até o momento na literatura científica. Mas Mello disse que mais de 70 pacientes entraram em contato com seu laboratório nos últimos três anos.
Vida após o diagnóstico
A natureza assustadora da doença faz com que muitas vezes ela seja diagnosticada erroneamente como esquizofrenia ou psicose.
Sharrah só descobriu sobre a PMO depois de postar sua experiência em um grupo de apoio online para pessoas com transtorno bipolar. Para ele, foi um grande alívio. “Significava que eu não era psicótico”, conta.
O homem, que tem uma visão perfeita, mandou fazer óculos com uma tonalidade verde que diminui a gravidade das distorções. O vermelho as torna “mais intensas”, explica.
Além da cor, a percepção de profundidade parece desempenhar um papel importante. Embora Sharrah não veja distorções faciais em telas planas, elas começaram a aparecer quando os pesquisadores o fizeram usar um óculos de realidade virtual.
Sharrah disse que se adaptou bem ao seu estranho mundo novo. Mais de três anos depois do diagnóstico, ele não usa mais os óculos com tonalidade verde.
“Me acostumei um pouco”, diz, acrescentando que em lugares lotados, como supermercados, a multidão de demônios ao seu redor ainda pode ser bastante “assustadora”.
Como os pacientes que sofrem de PMO sabem que o que estão vendo não é real, muitos enfrentam uma decisão difícil: vale a pena dizer às pessoas o quão grotesco elas se parecem, correndo o risco de parecerem loucos?
Alguns optam pelo silêncio. Mello contou o caso de um homem que nunca disse à mulher que o rosto dela, há muitos anos, parece distorcido para ele.
Sharrah diz que compartilha sua experiência para que outras pessoas com PMO possam evitar um falso diagnóstico e serem “hospitalizadas por psicose”.
“Assim, elas sabem o que está acontecendo e não passam pelo trauma que eu passei”.